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O SOL NEGRO DE THAIS ALBUQUERQUE BRAGA

Claudinei Roberto da Silva - curador

A mim o trabalho da artista Thais Albuquerque Braga proporcionou “pelo menos” um auspicioso reencontro com o poeta, dramaturgo, ator, xamã e filósofo francês Antonin Artaud (1896-1948), artista que entre outros prodígios, foi capaz de sugerir caminhos para luta antimanicomial e as rotinas desumanas que estigmatizam a loucura. Ele próprio, Artaud, foi uma triste vitima dessas práticas, voltaremos a ele.

Empilhar referências que supostamente iluminem uma dada produção artística é um expediente que pode, pelo contrário, toldar razões de ordem poética maior que elucidem os enigmas propostos pela obra. Explico; ou ao menos tento – Thais é uma jovem artista, de sensibilidade barroca, brasileira ela

contemporaneamente participa ou pelo menos, se beneficia dos avanços promovidos pela Tropicália. Não seria de todo equivocado se incluíssemos a esses predicados o dado Pop, não seria equivocado, mas, esta é uma pista falsa no caminho da aproximação que tentamos com o universo da artista, posto que a aparência, neste caso, não revela a essência.

Nas suas colagens digitais, que posteriormente recebem interferências artesanais, existe um apelo sedutor aos sentidos aflorados, uma lubricidade espelhada em presumida alegria, uma feérica felicidade, uma ilusão de contentamento que se provara perigosa.

O universo colorido constituído por essas criaturas e texturas sobrepostas remete ao Elvis Presley decadente e junkie dos seus anos terminais em Las Vegas, aos tétricos carnavais de James Ensor que acho, estão por ali à espreita. Um truque deprimente do charlatão de circo mambembe e faz fronteira com a arte popular que acredito essas colagens também querem ser.

Na história de arte brasileira recente e passada ideias foram filtradas pela sensibilidade acadêmica que vaticina ainda agora, as noções sobre o “bem fazer” artístico e determinam a partir daí, a qualidade de certa produção. A critica que vaticina a precariedade inata da produção naïf é a mesma que alardeia a suposta excelência da pintura de viés acadêmico, essa distinção que creio, é arbitraria, só se tornara obsoleta na utopia de uma sociedade sem classes. Ora, é também de utopias que a obra de Thais Albuquerque trata. Alias obra culta, pejada de referencias pinçadas numa história de arte que ela bem conhece, Gustav Klint esta lá, o México esta lá, o Realismo Fantástico e fantasmagorias vitorianas também se fazem notar e tudo isso amalgamado em imagens que delicadamente criam ilusões de espaço perspectivos através dos tratamentos digitais empregados nessa operação e das intervenções gráficas e pictóricas somadas a isso. As imagens a que a artista recorre foram (são) obsessivamente colecionadas e compostas em arranjos muito pensados, nestes trabalhos há certo transbordamento, uma exuberância de difícil definição, mas que, suponho, É difícil impedir um delirante de delirar já dizia o médico encarregado de “cuidar” de Antonin Artaud quando o poeta esteve internado no asilo de Rodez, é difícil também se aproximar da obra de Thais Albuquerque sem ceder ao perigo de um canto de sereia que nos conduz a um pesadelo travestido de sonho. Sol Negro. Sol ébrio. Quem sabe o mesmo sol cegante percebido por Artaud em Van Gogh le suicidé de la société (Van Gogh: o suicidado da sociedade). A beleza perigosa da loucura libertária.

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